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Sobre Educação Espírita

A Educação Espírita

Dora Incontri


Definições Possíveis

Existem três perspectivas sob as quais se pode falar em Educação Espírita. E certo que elas acabam se unificando num só conceito. Um aspecto deriva do outro e formam uma visão única.

· Espiritismo como Educação. A essência do Espiritismo é a Educação. Ao contrário de outras correntes religiosas, que têm um caráter salvacionista, a Doutrina Espírita, com seu tríplice aspecto—cientifico, filosófico e religioso —pretende promover a evolução do homem e esta evolução é um processo pedagógico. A Educação do Espírito é o cerne da proposta espírita. Se o Espiritismo é uma síntese cultural, abrangendo todas as áreas do conhecimento, seu ponto de unificação é justamente a Pedagogia. Não foi à toa que Kardec tenha sido educador e tenha recebido influência de Pestalozzi, um dos maiores educadores de todos os tempos. Melhor compreende o Espiritismo quem o compreende pedagogicamente.
Lendo Kardec com olhos pedagógicos, pode-se observar a sua insistência e a dos Espíritos em comparações com imagens emprestadas do universo educacional. O desenvolvimento do Espírito através das vidas sucessivas é visto como um curso escolar, com seus anos letivos. A Terra é tratada como uma escola, em que as almas se matriculam para o seu aperfeiçoamento. As imagens são recorrentes e não são meros recursos literários. Há de fato uma identificação. Corroborando essa leitura do Espiritismo, Herculano Pires, em Pedagogia Espírita, comenta que: "O Livro dos Espíritos é um manual de Educação Integral oferecido à Humanidade para a sua formação moral e espiritual na Escola da Terra".
Ser espírita, pois, na acepção plena da palavra é engajar-se num processo de auto-educação, cujo fim mal podemos entrever. E estar em processo de auto-aperfeiçoamento, como já vimos, é o requisito básico do educador. Como o Espiritismo não é uma doutrina individualista, no sentido de descomprometer o ser humano de deveres para com o próximo—ao contrário, elege na caridade seu princípio máximo—quem está em processo de melhorar a si mesmo tem o dever moral de exercer uma tarefa pedagógica com todas as criaturas que o cercam. A caridade máxima, portanto, que o espírita deve procurar realizar como ideal de vida, não é o assistencialismo social, respeitável e necessário, mas limitado e superficial, é sim a caridade da Educação. Elevar, transformar, despertar consciências, contribuindo para a mudança interna dos homens—que redundará também numa evolução externa—esta deve ser a meta de todo espírita.

· A Educação Segundo o Espiritismo. Se o Espiritismo é pedagógico, olhando a questão do lado avesso, a área específica da Pedagogia humana pode se iluminar com a perspectiva espírita. Neste sentido, a Educação espírita é a prática de uma Pedagogia à luz do Espiritismo. É exatamente o que estamos teorizando nesta obra. Muitas das idéias aqui expostas poderão ser partilhadas por adeptos de outras correntes filosóficas ou religiosas. Mas para aplicá-las inteiras, para aderir a uma formulação pedagógica completamente espírita, é preciso estar convencido dos postulados básicos da doutrina de Kardec. O educador espírita, porém, poderá e deverá exercer sua tarefa com quaisquer crianças e adultos. Se a verdadeira Educação se dá quando se desperta um processo evolutivo no educando, este processo poderá ser desencadeado em qualquer ser humano, tenha ele a cultura que tiver, seja ele partidário da religião que for. A influência benéfica de um educador, consciente de seu mandato, poderá se imprimir em qualquer educando.
Assim, educar espiritamente não é necessariamente educar para o Espiritismo. Kardec sempre enfatizou que os espíritas não deveriam fazer proselitismo e muito menos violentar consciências. No relacionamento com pessoas não espíritas, o educador espírita saberá exercer sua tarefa, sem impor suas convicções.

· O Ensino Espírita. O terceiro aspecto da Educação espírita é mais específico, é o ensino propriamente da Doutrina Espírita. Mas se não houver, por parte daqueles que estão promovendo este ensino, uma compreensão clara e uma prática engajada da Pedagogia espírita, então o processo não passará de catequese, um ensino formal, destituído de compromissos mais profundos. Na linha conceitual que temos seguido aqui, é evidente que o ensino espírita não poderá ser mera transmissão de conteúdos, mas o despertar de uma consciência espiritual.

Cenários da Educação Espírita

· A Existência. Entender o Espiritismo como Educação é ser espírita verdadeiramente. Por isso, quem é espírita de fato e pratica a caridade da Educação em todas as dimensões possíveis, faz isso existencialmente, no seu meio familiar, profissional, social, espiritual... É alguém engajado na própria evolução e na evolução coletiva. O destino espiritual do próximo não lhe será jamais indiferente. Não tomará, é claro, uma postura salvacionista, nem pretenderá mudar o mundo sozinho. Mas levará até o sacrifício o compromisso de exemplificar o bem, arrastando com isso outros seres ao contágio da virtude Amará com intensidade seu próximo mais próximo, procurando estender sempre mais seu amor ao próximo longínquo, significando esse amor justamente o empenho em ajudar o outro a encontrar seu próprio caminho evolutivo.
Consolar, amparar, servir—todos esses verbos tão conjugados em mensagens e orientações espirituais—são as atitudes fundamentais de quem ensina com a sinceridade dos sentimentos e a força do exemplo. São a ponte de acesso ao coração do próximo, não como fator de proselitismo, mas como centelha para desencadear um processo de Educação. Quem presta um serviço, quem se dispõe a se doar—se o faz com o influxo de vibrações autenticamente fraternas —pode restaurar no outro a confiança existencial e a vontade de crescer. Nesta doação fraternal, pode estar incluído um prato de comida, um passe, um agasalho... Mas a caridade deve transcender tudo isto, porque deve tocar a alma do outro.
Há pessoas que entendem a prática da Doutrina apenas no exíguo espaço do Centro Espírita. Quando estão no mundo, na profissão, na família, numa festa, nas relações sociais, agem como se não fossem espíritas. Mas o compromisso educativo existencial do adepto do Espiritismo é justamente ser em qualquer lugar e a qualquer hora um elemento de influências positivas, um pólo de transformação do ambiente. Sem prepotência, sem austeridade excessiva, sem pretensão à verdade absoluta, sem autoritarismo, como quem passa e serve, o espírita deve fazer brilhar seu empenho em ser melhor, sua fidelidade aos princípios éticos fundamentais, sua sede intelectual. . . procurando partilhar sua chama interior.
Irradiar otimismo, disposição, energia e serenidade—todas aquelas virtudes que vimos como constitutivas do verdadeiro educador—deve ser uma conseqüência natural da sua compreensão de mundo. Quem sabe que a vida é eterna, que toda tragédia é passageira, que tudo caminha para a perfeição, que todos estão sob a proteção de uma Providência misericordiosa e justa, será necessariamente uma pessoa alegre e tranqüila, no controle de si mesma, podendo com isso servir de edificação e apoio aos irmãos do caminho.
A missão pedagógica do espírita, porém, não se dá apenas no plano moral. Em todos os setores de atividade, os espíritas devem também se esforçar pelo avanço intelectual de si mesmos e da comunidade a que pertencem. Promover a cultura elevada e proporcionar meios à instrução—isso faz parte integrante de seu programa de ação. É nesse sentido que se deve abrir aqui uma crítica ao movimento espírita brasileiro, que tem se preocupado muito mais com a caridade material do que com a caridade pedagógica. Dar pão e agasalho é bem mais fácil do que educar, mas educar é uma terapêutica global e uma solução social muito mais eficaz.
Entenda-se que esse empenho pela Educação intelectual não pode significar impregnar-se de materialismo, de sofismas niilistas e de especulações vazias, que são hoje o tônus da maioria das correntes dominantes. A convicção espírita firme e sincera não é, entretanto, empecilho para o diálogo, para a abertura mental e para a tolerância ideológica.

· A Família Espírita. O mais forte impacto que o Espiritismo causa na relação entre os membros de uma mesma família é a desierarquização de funções. É verdade que os pais recebem a tarefa de educar os filhos e trata-se de tarefa de grande responsabilidade moral. Mas pais e filhos, marido e mulher, avós e netos são acima de tudo Espíritos irmãos, peregrinos da evolução humana, cada qual carregando sua herança passada e sua missão presente, essencialmente iguais, e dignos todos, moços e velhos, homens e mulheres, crianças e adultos, de respeito e amor. Nesta perspectiva, o autoritarismo patriarcal do passado perde qualquer fundamento. Espiritualmente, filhos podem até ser mais adiantados que pais. Mesmo nesse caso, não ficam os pais eximidos de sua função de educar.
Outra explicação inédita que o Espiritismo nos aponta para o entendimento das relações familiares é a lei da reencarnação. Como pai e filho, irmão e irmã, avô e neto, podem nascer adversários ferrenhos do passado. E nesse caso, a convivência cotidiana deve ser justamente a oportunidade de reconciliação e ajuste. Quando o pai ou a mãe percebe num filho uma aversão inata, uma antipatia inexplicável, podem estar certos de que a relação atual é preciosa ocasião para reajuste de ódios anteriores. Cabe então ao adulto, na posse do conhecimento espírita, procurar com mais afinco, dedicação e renúncia, conquistar o amor daquele ser a quem talvez prejudicou em eras passadas. Se aquele que tem a missão de educar permanecer com o coração endurecido e não fizer a sua parte para a reconciliação espiritual, terá fracassado duplamente, como pai ou mãe e como cristão, com o dever moral de perdoar e reconciliar-se com os adversários.
Assim, num clima não-hierárquico—onde todos se sintam acima de tudo irmãos uns dos outros—de cultivo permanente de amor e respeito mútuo, a família espírita é o cenário mais propicio e mais imediato para a Educação espírita. Evidentemente, não se trata aqui de sermões esporádicos a respeito de postulados doutrinários. Mas quando o Espiritismo está enraizado na alma, entranhado no comportamento cotidiano, como explicação para os porquês da existência, como parâmetro ético, como proposta vital—então a convicção espírita se impregna naturalmente nas crianças, marcando-as para o resto da vida.
Então, nem sequer faz sentido a questão muito polemizada por certos adeptos: se os pais devem ou não ensinar Espiritismo às crianças. Se os pais s de fato espíritas, ensinarão nos mínimos gestos, nas relações familiares, na vi profissional, e na própria prática pedagógica que adotarem com os filhos, o que é ser espírita. Mas se o Espiritismo representar apenas uma freqüência rotineira um Centro, sem que haja um engajamento existencial, então obrigar a criança ir a cursos de evangelização, como se vai a um catecismo para fazer primeira comunhão (quando os pais não são católicos praticantes) é transformar a Doutrina num formalismo religioso, sem um sentido mais profundo. É evidente que tal atitude não criará convicções; ao invés, despertará resistências.
Além da função pedagógica, específica dos pais, não se pode deixar de mencionar que a família serve como cenário educativo para todos os seus membros, desde que haja engajamento no processo de melhoria Intima. É na família que podemos e devemos em primeiro lugar conquistar e exercitar virtudes fundamentais, como altruísmo, paciência, amor ao próximo e ao mesmo tempo o empenho de contribuirmos para o progresso do outro. Trata-se, pois, de um cenário permanente e fecundo para a Educação do Espírito.
A Escola e a Universidade Espírita. É numa instituição de ensino primário, secundário ou superior, que devemos também colocar em prática a Educação segundo o Espiritismo. É preciso criar espaços institucionais, onde as crianças, os adolescentes e os jovens possam receber uma Educação integral; serem amados e observados como Espíritos imortais e reencarnados; serem estimulados a se auto-educarem... Nem todos os alunos de uma escola ou de uma universidade espírita deverão ser necessariamente adeptos do Espiritismo. Aprender o conteúdo doutrinário pode ser uma opção de pais e alunos. Mas todos deverão se beneficiar de uma visão espírita da Educação. Muitas das idéias que constituem o universo da Pedagogia Espírita vêm de uma tradição que começa em Sócrates, passa por Comenius, Rousseau, Pestalozzi e têm seu modelo máximo em Jesus. Desta forma, crianças e jovens pertencentes a diferentes credos poderão usufruir de uma Educação espiritualista, sem que suas consciências sejam violentadas por imposições.
Salvo raras exceções, as escolas espíritas que fizeram história no Brasil e outras que ainda estão atuantes, adotaram o sistema educacional vigente e apenas acrescentaram uma aula de Espiritismo, opcional ou obrigatória. Quando muito, apóiam-se numa filosofia vagamente humanista. Este não é o modelo de uma escola verdadeiramente espírita. A Doutrina não pode se reduzir a um catecismo periódico, divorciado da prática existencial. Trata-se sim de oferecer escolas com uma proposta de Educação tão revolucionária, tão superior, tão mais democrática e eficaz que as ofertas vigentes, que mesmo não-espíritas disputarão suas vagas.
Manifesta-se aí o compromisso espírita de agir pedagogicamente, tanto no sentido moral quanto intelectual e mesmo estético. E preciso abolir o conceito ultrapassado de que a boa vontade supre todas as deficiências. Escolas espíritas—sem necessidade de ostentação—devem ser modernas, com arquitetura diferençada, em meio à natureza, bem equipadas e, sobretudo, com recursos humanos qualificados. E para formar recursos humanos compatíveis, precisamos de universidades espíritas. O círculo se fecha. É imprescindível criarmos um ciclo educativo completo, pelo qual possamos educar pessoas pelo menos humanistas, que se ponham na vanguarda espiritual da sociedade e espíritas mais conscientes, com uma cosmovisão doutrinária mais integrada e fundamentada. Ao mesmo tempo em que o Espiritismo pode contribuir para a melhoria da Educação, a Educação espírita deve contribuir para o progresso do próprio Espiritismo.
Certamente, não deixarão de perguntar pelos recursos financeiros necessários a tais empreendimentos. Os recursos existem. O movimento espírita não constrói centros, asilos, hospitais, orfanatos, federações? Por que não aplicar parte destes recursos para a construção de escolas e faculdades? O que falta é uma mudança de mentalidade: é preferível, embora mais trabalhoso, aplicar dinheiro em Educação do que em assistencialismo; aliás, o próprio assistencialismo deveria ser pedagógico.
Os Centros e Instituições Espíritas. A primeira instituição espírita do mundo foi a Sociedade de Estudos Psíquicos de Paris. Lá se pesquisavam os aspectos cientifico, filosófico e moral do Espiritismo. Os participantes debatiam questões existenciais, mensagens e fenômenos mediúnicos, temas do cotidiano e notícias de jornais, teorias cientificas ou filosóficas à luz da Doutrina. Intercambio entre os próprios encarnados—entre os membros da sociedade e outras sociedades semelhantes na França e no estrangeiro—e entre encarnados e desencarnados, alimentava o progresso do Espiritismo, sob a luminosa liderança de Kardec que, apesar de sua incontestável autoridade espiritual, jamais se arvorou em chefe do movimento. O aspecto acadêmico da Sociedade—no que a academia tem de positivo em pesquisa e diálogo entre os pares e não no seu r espírito sistemático e arrogante—estava presente na Sociedade de Paris, que tinha um caráter de "estudos", portanto, um caráter pedagógico.
No Brasil, houve um processo, talvez historicamente necessário, de massificação do Espiritismo. Centros, Federações, instituições diversas atendem diariamente a milhares de pessoas em todo o país. Com isso, a Doutrina penetrou em todas as camadas da sociedade e multiplicou adeptos e simpatizantes. O Brasil se tornou o país mais espírita do mundo. Mas essa disseminação em massa teve seu preço. As casas espíritas praticam um assistencialismo social e espiritual em que o indivíduo atendido geralmente assume uma atitude muito passiva de assistir cursos, palestras, tomar passes. Às vezes, após anos e anos numa casa espírita, o freqüentador tradicional não passou de fato por um processo pedagógico de crescimento global, mas pratica o Espiritismo à moda tradicional de outras religiões: de forma rotineira, mística e destituída de significação existencial mais profunda.
Já que o movimento espírita brasileiro avançou tanto em termos numéricos, chegou a hora de darmos um salto qualitativo em suas práticas: e esse salto deve ser justamente o de caracterizar toda a atividade espírita como atividade pedagógica, segundo a própria essência da Doutrina. Pode-se objetar que as atividades desenvolvidas pelos Centros e Federações são predominantemente educacionais. Cursos, palestras, estudos doutrinários, o grande movimento da evangelização infantil, as Mocidades Espíritas, a própria assistência social— sempre acompanhada do ensino do Espiritismo—e a assistência espiritual— com a doutrinação dos Espíritos—tudo isto é Educação espírita. É verdade que o movimento espírita tem esse caráter instrutivo, mas não necessariamente pedagógico. Geralmente, é um ensino exercido de forma autoritária e conservadora, arraigado nos modelos tradicionais do sistema educacional vigente e nas heranças trazidas das igrejas. Crianças, adolescentes, jovens, adultos, que chegam à casa espírita, não se tornam educandos para assumir sua própria auto-educação, num processo participativo, dinâmico e enriquecedor.
São tratados como ouvintes passivos.
A metodologia adotada para o ensino do Espiritismo, em qualquer nível costuma ser maçante e autoritária, sem recursos didáticos, sem consciência de expositores e líderes do sentido real de um processo pedagógico.
Pode-se argumentar que um dos problemas com que se depara a casa espírita é a freqüência de pessoas traumatizadas por perdas dolorosas ou portadoras de complexos problemas obsessivos. Isso faz com que tais recém-chegados sejam muitas vezes tratados de forma paternalista. Costuma-se mesmo dizer que, para estes, o Espiritismo teria um caráter apenas consolador. E quem precisa ser consolado não está interessado em renovação. E quem está obsedado não pode ter a liberdade da palavra, nem mesmo para indagar—é o que se pensa.
É evidente que o controle de qualquer atividade espírita deve ser ass do por pessoas equilibradas, moralmente idôneas, conhecedoras e praticando Espiritismo em todos os seus aspectos. Isto não é motivo para que os outros participantes do processo sejam tratados com uma falsa superioridade. O educador verdadeiro é aquele que sabe converter traumas em motivos de edificação e crescimento e fazer da participação ativa dos educandos uma terapia para seu reequilíbrio. O primeiro passo para que se dê de fato um desencadear das potencialidades dos que freqüentam a casa espírita é que sejam acolhidos como seres pensantes e dignos de serem ouvidos. Que se tornem indivíduos conhecidos, respeitados e participantes, e não meros assistidores de palestras.
Seminários, debates, reuniões de estudos em que todos possam colocar seus questionamentos e dúvidas, a própria disposição das cadeiras em círculos e não em platéias com um púlpito longínquo—tudo isso deve fazer parte do panorama pedagógico do Centro Espírita, quebrando o monólogo autoritário dos oradores. E evidente que, para isso, o Centro não precisa nem deve se converter numa arena de disputas de opinião e de brigas pessoais. É preciso criar o hábito de debater idéias com argumentos e não com ofensas e enfrentar a divergência de opinião com naturalidade, preservando sempre os postulados básicos do Espiritismo. Com líderes conscientes, equilibrados e com sólidas convicções doutrinárias, é possível se ventilar o clima com a liberdade de expressão, mantendo-se o padrão vibratório elevado e a compreensão fraterna entre todos. Aliás, isto também deve fazer parte do aprendizado. É muito fácil se obter uma harmonia aparente, sob o tacão da disciplina autoritária. O desafio é obter a união, pela adesão voluntária de todos os participantes a uma proposta de progresso e fraternidade.

Educação mediúnica
A Educação mediúnica é um dos aspectos característicos da Educação espírita, ligada ao desabrochar das capacidades extra-sensoriais que todo ser humano deverá desenvolver em sua jornada evolutiva. Como já foi analisado (ver Cap. II), há o mediunato—compromisso específico de atuação mediúnica numa dada existência—mas além desta tarefa, todos os seres humanos têm uma mediunidade geral, mais ou menos cultivada.
No caso de o indivíduo possuir algum dom mediúnico específico, a Educação mediúnica tem por meta possibilitar seu desenvolvimento e uso equilibrado, sadio e positivo. No caso de mediunidade difusa, não-específica, a meta é a de aguçar a sensibilidade extra-sensorial, a intuição, a percepção psíquica—coisas presentes em todos os seres humanos.
Tanto num como noutro caso, são facetas da proposta espírita: o controle racional das faculdades mediúnicas, fruto do estudo acurado dos fenômenos e da auto-análise que todo espírita comprometido com sua auto-educação deve permanentemente promover; o uso da mediunidade para fins úteis, nobres e cristãos; o cuidado para não converter nenhum dom mediúnico em fonte de riqueza material, de projeção pessoal ou de manipulação psíquica, ou seja, mediunidade com absoluto desinteresse e devotamento.
A Educação mediúnica não é meramente um apossar-se de técnicas, mas deve ser um fator de evolução global para o Espírito; uma possibilidade real de aperfeiçoamento moral e de prática do Bem. Os parâmetros éticos da mediunidade se sobrepõem aos aspectos técnicos, inclusive como garantia de controle do fenômeno e de atração de bons Espíritos—ao contrário de certas correntes espiritualistas que acentuam a frieza da técnica em detrimento do amor que deve orientar a utilização dos dons psíquicos.
Se, conforme Herculano Pires, O Livro dos Espíritos é um manual de Educação Integral, O Livro dos Médiuns é um manual de Educação mediúnica, que pela primeira vez na história humana colocou balizas éticas e racionais para a prática da mediunidade.
A EDUCAÇÃO SEGUNDO O ESPIRITISMO – Dora Incontri





Importância da Evangelização Infantil

Joanna de Ângelis
DIVALDO FRANCOINSPIRADO POR JOANNA DE ÂNGELIS CONFORME DECLARA EM CORRESPONDÊNCIA ENVIADA AO PRESIDENTE DA FEB EM 23 DE AGOSTO DE 1982RESPONDE AO QUESTIONÁRIO QUE LHE FOI PROPOSTO SOB E A IMPORTÂNCIA DA EVANGELIZAÇÃO ESPÍRITA INFANTO - JUVENÍL COM OPORTUNAS E RELEVANTES DECLARAÇÕES .

01. Qual a importância da Evangelização Espírita Infanto-Juvenil na formação da sociedade do Terceiro Milênio?
De máxima relevância, por ser a infância de hoje o elemento social do futuro que constituirá a nova Humanidade, desde já programada para o início do Terceiro Milênio. Na alvorada do próximo milênio, os jovens da atualidade estarão chamados a exercer tarefas e atender a compromissos cujos resultados dependerão da formação que lhes seja dada, desde agora. Sendo a Doutrina Espírita a mais excelente Mensagem de todos os tempos — porque restauradora do pensamento de Jesus Cristo em forma compatível com as conquistas do conhecimento moderno - é óbvio que a preparação das mentes infanto- juvenis à luz da evangelização espírita é a melhor programação para uma sociedade feliz e mais cristã. Conforme afirmam os Benfeitores Espirituais, Entidades Venerandas se reemboscam na vestimenta carnal para apressar o “reino de Deus”. Outros Espíritos mais infelizes, que ficaram retidos em regiões de dor e sombra por alguns séculos, a fim de que não perturbassem a marcha do progresso da Humanidade, igualmente serão trazidos — como já vem ocorrendo — à experiência da reencarnação iluminativa. Sendo assim, é justo estejamos preocupados em socorrer estes últimos com a mensagem libertadora e auxiliar os outros que virão abrir caminhos novos para o Bem e a Verdade no despertamento de suas responsabilidades.

02. D e que tipo e em que intensidade se efetua o apoio que o Plano Espiritual Superior dispensa ao Movimento de Evangelização Espírita Infanto-Juvenil?
Através da inspiração constante e da assistência espiritual aos que trabalham no relevante mister, os Amigos da Vida Maior trazem as idéias que se convertem em programas, as técnicas que se transformam em experiências logo que aplicadas, melhor atendendo às necessidades do Movimento de Evangelização Espírita Infanto- Juvenil. Outrossim, distendem recursos terapêuticos durante as reuniões dedicadas a essa tarefa, socorrendo e amparando os que trazem marcas mais vigorosas do passado próximo, em forma de limitação, enfermidade oualienação por obsessão e despertando os infantes e jovens para melhor compreenderem a necessidade de crescimento para Deus. Entretanto, muitos Espíritos Nobres estão reencarnados já, realizando o cometimento na condição de evangelizadores e preparadores da juventude.

03. Como os Espíritos Superiores estão vendo a atuação dos companheiros encarnados com responsabilidade nas tarefas de Evangelização Espírita Infanto-Juvenil?
De forma positiva e muito confortadora, em se considerando os resultados já palpáveis, não apenas no Brasil como em diversos países americanos onde têm chegado a sadia orientação e o oportuno desenvolvimento de ação. Através dos dedicados trabalhadores encarnados logram, aqueles Condutores Espirituais, atender a tarefa de espiritualização da criatura humana, com vistas ao futuro melhor de todos nos.

04. Como os Espíritos vêem, nO conjunto das atividades da Instituição Espírita, a tarefa de Evangelização Espírita Infanto-Juvenil?
Têm-nos informado os Benfeitores Espirituais, entre os quais Dr. Bezerra de Menezes, Joanna de Ángelis e Amélia Rodrigues, que este necessário labor é o “sémen” fecundante do Bem no organismoda criatura humana, produzindo “frutos” da sabedoria e de paz. A Casa Espírita, através das suasdiversas atividades doutrinárias, mediúnicas, educacionais e assistenciais, compromete- se a ensinar eviver a Doutrina codificada por Allan Kardec. Tarefas essas todas grandiosas e de valor incontestável.
No setor doutrinário- educacional a obra se agiganta quando dirigida às gerações novas, ainda nãocomprometidas emocionalmente com os problemas da atualidade e receptivas às orientações que lhechegam. A divulgação do Espiritismo sob todas as formas é o grande desafio para os espíritas e suasInstituições neste momento grave da Humanidade. A Evangelização Espírita Infanto- Juvenil é uma dasprimeiras atividades a serem encetadas como base para a construção moral do Mundo Novo.

05. Existem condições mínimas para que alguém possa desempenhar a tarefa deevangelização? Quais seriam?
Não pretendemos estabelecer regras de comportamento doutrinário, que já se encontram muito bem apresentadas no corpo da Doutrina Espírita, e, em particular, na excelente página “o homem de bem” e a seguir “O Evangelho segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec.
Não obstante, a pessoa que deseje desempenhar a tarefa de Evangelização Espírita Infanto- Juvenil deve possuir conhecimento da Doutrina Espírita e boa moral como embasamento para a tarefa que pretende. Como necessidade igualmente primordial, deve ter conhecimentos de Pedagogia, Psicologia Infantil, Metodologia, sem deixar à margem o alimento do amor, indispensável em todo cometimento de valorização do homem. Aliás, a programação para a preparação de evangelizadores infanto- juvenis tem tido preocupação em oferecer esses elementos básicos nos Encontros e Cursos que são ministrados periodicamente em diversas regiões do país sob a orientação da FEB.

06. Que papel cabe aos espíritas de um modo geral, isto é, àqueles que não atuam diretamente na Evangelização Espírita Infanto-Juvenil, para o crescimento e maior êxito dessa tarefa?
O de divulgar este trabalho importante, estimulando os pais para que encaminhem, quanto antes, os seus filhos à preparação e orientação evangélico- espírita, de modo a contribuírem significativamente para os resultados que todos esperamos. Da mesma forma, exemplificarem, levando os filhos às aulas hebdomadárias e mantendo, no lar, a vivência espírita, que ainda é a melhor metodologia para influenciar mentes e conduzir sentimentos.

07. Que orientação os Amigos Espirituais daria,n aos pais espíritas em relação ao encaminhamento dos filhos à Escola de Evangelização dos Centros Espíritas?
Informa- me Joanna de Ángelis que, na condição de pais e orientadores, temos a preocupação de oferecer a melhor alimentação aos filhos e aos nossos educandos; favorecê- los com o melhor círculo de amigos; vesti- los de forma decente e agradável; encaminhá- los aos melhores professores, dentro da nossa renda; proporcionar- lhes o mais eficiente médico e os mais eficazes medicamentos quando estejam enfermos; conceder- lhes meios para a manutenção da vida; encaminhá- los na profissão que escolham... É natural que, também, tenhamos a preocupação maior de atendê- los com a melhor diretriz para uma vida digna e um porvir espiritual seguro, e esta rota é a Doutrina Espírita. Portanto, encarminhemo- los às Escolas de Evangelização dos Centros Espíritas, ou, do contrário, não estaremos cumprindo com as nossas obrigações.

08. Que recursos poderiam ser, ainda, acionados para expandir a tarefa de Evangelização Espírita Infanto-Juvenil?
Maior e mais constante contato entre evangelizadores e pais, a fim de os conscientizar da alta responsabilidade que a estes últimos diz respeito, pedindo ajuda e num intercâmbio freqüente, já que ambos são interessados na formação moral e espiritual da criança e do jovem. Seria, também, muito válido, que os resultados da Evangelização Espírita Infanto- Juvenil fossem mais divulgados nos Centros Espíritas e se insistisse mais na colocação de que todo bem feito à infância se transforma em bênção no adulto.

09. Qual o papel da Evangelização Espírita Infanto-Juvenil na expansão do Movimento Espírita no Brasil?
Muito importante esse papel. Graças ao trabalho preparatório que se vem realizando, há anos, junto à criança e ao jovem, é que encontramos uma floração abençoada de trabalhadores, na atualidade, que tiveram o seuinicio sadio e equilibrado nas aulas de evangelização espírita, quando o dos seus dias primeiros na Terra...
Este ministério de preparação do homem do amanhã facultará ao Brasil tornar- se realmente ‘O coração do mundo e a Pátria do Evangelho”, conforme a feliz ideação do Espírito Humberto de Campos, por intermédio de Francisco Cândido Xavier, traduzindo o programa do Mundo Maior em referência á nação brasileira.

10. Que espécie de colaboração pode o Brasil oferecer a outros países na área de Evangelização Espírita Infanto-Juvenil?
A da experiência tornada realidade, conforme já vem ocorrendo desde quando foram tomadas providências para que a América Latina participasse do cometimento da Evangelização Espírita Infanto- Juvenil, publicando- se o material em castelhano e distribuindo- o gratuitamente por diversos países e conforme recentemente ocorreu, em Cartagena de Índias, na Colômbia, por ocasião do Congresso Espírita Pan-Americano, quando, terminado aquele conclave, a FEB ministrou um curso de preparação de evangelizadores com resultados muito felizes, conforme foi possível constatar, muito recentemente, naquela cidade.

Salvador, 23 de agosto de 1982
Divaldo Franco


Educação Integral
A Educação Espírita tem, como objetivo principal, a emancipação do ser humano baseada na percepção e compreensão da sua própria natureza espiritual.
Não se trata de transformar crianças em espíritas. Trata-se de torná-las pessoas felizes, realizadas, conscientes das leis da vida e da sua função no Universo.
Para isto, é necessário considerar o educando em todos os aspectos interligados de seu Ser: espiritual, moral, mental, emocional, físico-energético, social.
É necessário desenvolver um tipo de trabalho que inclua todas estas dimensões do Ser; que relacione conceitos, sentimentos e prática; que seja atual e interdisciplinar e adaptado a cada realidade, sem perder-se de seus princípios norteadores.
Rita Foelker
Fonte: http://www.edicoesgil.com.br/educador/boasvindas.html

Filosofia Espírita para Crianças
Uma proposta pedagógica

Por Rita Foelker

RESUMO DOS OBJETIVOS E MEIOS

1. O que é Filosofia Espírita para Crianças?


A Filosofia Espírita, às vezes, é encarada como o conjunto das crenças espíritas a respeito do Universo e do ser humano. Porém, fazer filosofia na prática , ou seja, praticar um ensino filosófico, não é simplesmente transmitir princípios da crença espírita. É analisar estes princípios, questioná-los, buscar compreender melhor o seu significado e as suas conseqüências, especialmente as de ordem moral e ética.

Não se aceitam idéias como verdadeiras por imposição, mas sabendo porque as aceitamos. Esta é a essência da atitude filosófica: compreender o sentido e as conseqüências da realidade.

As crianças são filósofas espontâneas. Não precisamos lhes impingir um olhar admirado e curioso perante a vida, porque querem, com entusiasmo, saber o que são as coisas e porque elas são assim e não de outro jeito.

Filosofia Espírita para Crianças é uma proposta pedagógica que pretende ajudar crianças e jovens nesta sua busca natural, agregando um método de trabalho que, sem tirar a naturalidade e espontaneidade do processo investigativo, resulte na produção de conhecimento com significado e em bases racionais.

2. Para que serve a Filosofia Espírita para Crianças?

O objetivo desta proposta pedagógica é auxiliar crianças e jovens a encontrar, ao filosofar, a explicação racional que sustente suas ações morais e resulte em melhoria e manutenção de uma atitude mais positiva e construtiva perante a vida.

A explicação racional se obtém ampliando o conhecimento e raciocinando sobre os princípios do Espiritismo, compreendendo seu significado e os desdobramentos práticos de cada um em nossa vida espiritual, pessoal e social.

Princípios do Espiritismo (1)

Os princípios do Espiritismo são conceitos que formam a estrutura básica do pensamento espírita. São eles:

Deus,
espírito e matéria (os elementos da criação),
imortalidade,
reencarnação,
progressão dos Espíritos (evolução),
livre-arbítrio,
causa e efeito,
fluidos,
perispírito,
mediunidade,
pluralidade dos mundos habitados,
Espíritos em erraticidade,
influência dos Espíritos na nossa vida e
influência dos Espíritos na Natureza.
São idéias que, uma vez modificadas ou descaracterizadas, descaracterizam a própria Doutrina, o que nos leva a relacioná-las à própria identidade do Espiritismo, enquanto filosofia.

Os princípios do Espiritismo formam uma rede de inter-relações que compõem, para aquele que os conhece, uma sólida base filosófica e ética.

Para quem é espírita ou não, o conhecimento dos princípios torna possível raciocinar e entender a vida através de uma visão racional, gerando resultados práticos nas mais diferentes situações. A sua compreensão aprofundada melhora nossa capacidade de reflexão, ajuda no exercício do diálogo interior e na manutenção de maior segurança e harmonia.

É imprescindível que o educador espírita se torne um estudioso da Doutrina, a fim de conseguir percebe-los na dinâmica da existência, de poder falar sobre eles com desenvoltura e participar da construção de raciocínios pertinentes a seu respeito.

Valores

A manutenção de atitudes positivas e construtivas perante a vida só é possível quando nossas escolhas são norteadas por valores verdadeiros e perenes.

Os valores considerados fundamentais para uma vida digna e feliz, voltada à evolução do Ser espiritual, levando em conta sua participação na vida social e planetária, são, segundo a Filosofia Espírita para Crianças:

Autoconhecimento - Os temas serão sempre estudados de a partir da perspectiva do educando e de acordo com a sua necessidade e observação. Os questionamentos o encaminharão para dentro de si mesmo, conhecendo seu pensar e o seu sentir a respeito deles.

Autenticidade - Ao contrário da educação repressiva que conduz à hipocrisia, o diálogo prezará a autenticidade, incentivando à legítima expressão por parte de todos os envolvidos, daquilo que pensam e sentem. A autenticidade será também valorizada diante de todas as demais situações da vida.

Auto-responsabilidade - O estudo buscará possibilitar a compreensão clara da nossa responsabilidade exclusiva pela nossa própria felicidade e infelicidade, assim como da responsabilidade de cada um como agente modificador do meio em que se encontra.

- Todos os temas levarão em conta a ordem superior representada pelas leis naturais que governam o Universo e os atributos de Deus, perfeito, soberanamente justo e bom.

Amor - Em todas as oportunidades serão incentivados os sentimentos de amizade e amor no grupo, através do respeito e da aceitação, do desejo do bem em relação a todos. Por extensão, exercitaremos o amor ao próximo e à Natureza.

O importante é impregnar nossa conduta e nossa prática nestes valores, de modo que eles se tornem o próprio jeito do educador ser e se comportar. Apenas compartilhando e vivenciando estes ideais, podemos compreender seu sentido e suas conseqüências.

3. Como funciona a Filosofia Espírita para Crianças?

Basicamente, a Filosofia Espírita para Crianças cria um espaço para a aprendizagem significativa, para o aprofundamento nos conceitos espíritas básicos e a percepção de suas relações com a vida prática. As características da investigação filosófica que realizamos são as seguintes:

Cultivo das habilidades do pensamento
Busca de sentidos da realidade e percepção das conseqüências
Liberdade de questionamento
Comunicação fluente e participação ativa
Relação teoria/prática
Respeito a todos os pensamentos e opiniões
Além delas, é importante compreender os processos presentes nessa investigação:

Experimentar/Vivenciar

A prática do ensino filosófico está vinculada a um grau possível de experiência dos temas estudados, a fim de gerar reflexões e ensejar transformações interiores.

Parte-se então de um exemplo prático do cotidiano do educando, ou da Natureza, ou de uma atividade vivencial. Essa atividade não apenas fará pensar, mas olhar para si mesmo, avaliar as próprias escolhas e modos de pensar e sentir, enfim, interagir com o tema em estudo.

Ao educador cabe encontrar estratégias que levem os educandos a experimentar os conceitos abordados em profundidade.

Dialogar/Interagir

Em lugar do monólogo, onde um apenas ensina e os demais aprendem, pratica-se o diálogo.

E o que é o diálogo? É uma relação horizontal de A com B. Nasce de uma matriz crítica e gera criticidade (Jaspers). Nutre-se de amor, de humanidade, de esperança, de fé, de confiança. Por isso, somente o diálogo comunica. E quando dois pólos do diálogo seligam assim, com amor, com esperança, com fé no próximo, se fazem críticos na procura de algo e se produz uma relação de "empatia" entre ambos. Só ali há comunicação.

(...) É no diálogo que nos opomos ao antidiálogo tão entranhado em nossa formação histórico-cultural, tão presente e, ao mesmo tempo, tão antagônico ao clima da transição. O antidiálogo, que implica numa relação de A sobre B, é o oposto a tudo isso. É desamoroso. Não é humilde. Não é esperançoso; arrogante, auto-suficiente. Quebra-se aquela relação de "empatia" entre seus pólos, que caracteriza o diálogo. Por tudo isso, o antidiálogo não comunica. Faz comunicados.

Precisávamos de uma pedagogia da comunicação com a qual pudéssemos vencer o desamor do antidiálogo.(2)

O método dialógico leva os alunos a pensar sobre o significado de suas palavras e sobre as conseqüências de seus pensamentos, vivenciando os conceitos na prática em lugar de apenas aprender a "falar sobre" eles.

Pensentir

Pensar é um ato. Sentir é um fato. Clarice Lispector.

"Pensentir" é uma destas palavras que surgem para significar uma idéia que ainda não se conseguia expressar.

Ela nasceu nos diálogos do Grupo de Filosofia Espírita para Crianças, como uma necessidade para falar do que buscávamos no ensino filosófico que nos propúnhamos a desenvolver: pensentir os conceitos.

Não só pensar e raciocinar, não só sentir e vivenciar, mas fazer tudo ao mesmo tempo!

Em nossa sociedade, ciência e intelectualidade são altamente valorizadas. Nossas escolas (e mesmo alguns ambientes espíritas) estão lotadas deste saber "científico, intelectual" que, embora tenha seu valor num contexto mais amplo, quando está sozinho, não ajuda a pessoa a conhecer a si mesma e a se transformar.

Quase não se vê esforço consciente de aprender sobre o sentir. Fala-se da necessidade de ser caridoso, mas pouco se fala de sentimentos presentes e emoções reais.

As pessoas agem motivadas por emoções e sentimentos. Por isso, ao analisar questões e situações morais usando apenas a razão, teremos apenas uma visão parcial das mesmas. Não dá para conversar sobre transformação interior sem falar no pensar/sentir/PENSENTIR.

Notas:

1. Veja mais detalhes no texto "Dos conhecimentos como ferramentas" - Anexo 1"

2. Paulo Freire em "Educação e Mudança", Ed. Paz e Terra. 

Fonte: http://www.edicoesgil.com.br/educador/filosofia/filosofia_principal.html


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